Olá !!
Para mim é diferente a sensação com relação ao Dia dos Pais. É legal, é muito bom hoje porque tenho uma filha, ela ama o pai e o pai a ama também. Então é lindo comemorar o Dia dos Pais hoje por causa da nossa filha. Tem o meu sogro, mas por mais que o estime, ele não é meu pai.
Meu pai, quando era presente, era um pai meio diferente: lembro dele forte, cabelos fortes e muito escuros, óculos escuros dia e noite, baixinho, mecânico de automóveis. Mas ele não nos deixava chamá-lo de Pai, queria Pop. Era brincalhão e vivia tirando uma com minha cara, eu era bobona, magrela, míope...além dos dentes tortos e cabelão tão comprido que tinha de levantar as pontas para não sentar nele. Me chamavam de Perla, eu detestava, não podia nem ver a Perla cantando no Chacrinha....
Com meu pai aprendi o gosto da leitura, aprendi a ler com 5 anos (naquela época a gente entrava na escola para se alfabetizar com 7 anos) só para ler os gibis que eu o via lendo: Tio Patinhas, Mortadelo e Salaminho (que saudades....), daí parti para os livros e revistas e hoje leio de tudo, até bula de remédio.
Com ele também aprendi a comer peixe, de todo tipo, crustáceos, e coisinhas mais diferentes como língua e miolo bovinos (que hoje não tento mais)
Ele fazia brincadeiras de todo tipo, lembro de uma vez que ele comprou umas bananas imensas e disse que eram bananas de macaco. Então ele pegou uma e foi comer no quintal, tinha roupas estendidas no varal e ele nos chamou mas estava com uma voz muito estranha, quando chegamos perto ele tinha um rosto de macaco (era uma máscara) e começou a fazer barulhos e movimentos de macaco, que susto!!!!
Uma outra vez ele levou um saco de pedras para casa e falou para minha mãe que elas eram explosivas, não podiam ficar molhadas, nós acreditamos, levávamos aquele saco de pedras pela casa como se fosse mesmo uma bomba, era um tormento lavar o chão com medo das tais pedras explodirem. Ele devia se divertir muito às nossas custas.
Colava moedas no chão para a gente tentar pegar, colocava fios de vassoura piaçava em frestas para imitar antenas de barata (eu tenho pavor até hoje...)
Também com ele aprendi a amar os animais, por ele nós teríamos um zoológico em casa, além dos incontáveis gatos (que eram sua paixão - sua oficina se chamava Miau Shop Service), tivemos galo e galinha com seus pintinhos, pato pata e seus patinhos, gnus, esquilos, coelho, peixes, cachorro, ele soltava caranguejos vivos pelo quintal (uma noite matei um quando pisei nele no escuro) e até um sagüi ele levou para casa....
Fazia lagartixas de massinha como ninguém, pareciam reais !!!
Deixava as formigas picarem suas mãos, cortava caroço de azeitonas nos dentes...
Dirigia muito bem, tinha um DKV - Vemaguete 67, aparecia em casa com carros diferentes, e velhos. Tinha as mãos sujas de graxa, assim como as roupas, chulé e roncava muito alto.
Bebia e brigava com minha mãe. Ele não queria filhos. Acho que também não queria ser casado, existem homens que nasceram para não ter compromissos com família e meu pai era assim. Era seu lado não bom.
Um dia, depois que fiz 15 anos, ele disse que ia trabalhar no Nordeste e se foi.
Não voltou mais, não nos vimos por muitos anos.
Um dia eu estava no metrô e vi uma menininha japonesa de 1 ano mais ou menos, no colo de sua mãe, ela era lindinha com aquele cabelinho liso, preto, bochechas bem vermelhinhas. Quando olhei ao lado delas vi meu pai. Era filha dele, sua nova família....
Depois eu soube que tinha também um irmão...
Depois de muitos anos, eu o vi doente, na casa de minha tia, irmã dele. Mais uma vez ele se foi e sumiu.
Me ligou no dia do meu noivado, estava falando diferente, disse que tinha caído da moto e quebrado os dentes.
Um dia eu estava trabalhando e minha tia me ligou, eu não atendi na hora e depois me arrependi. Liguei de volta e ela disse que meu pai tinha estado lá e queria ter falado comigo ao telefone, mas já tinha ido embora, quase chorei de arrependimento, ela então pediu ao meu primo para ver se ainda o alcançava na rua, ele ia para o metrô, para pegar um ônibus para o litoral onde morava.
Ainda bem que ele voltou e nos falamos, eu não sabia sobre o que conversar depois de tantos anos. Ele parecia cansado e não falava mais tão bem. Perguntei pelos gatinhos, ele riu e disse que tinha sim, lá no litoral. Nos despedimos, eu fiquei feliz e foi a última vez que nos falamos.
No reveillon de 2005 encontrei minha tia no mercado, ela me contou que ele havia sido operado do coração fez ponte safena, estava morando em um asilo no litoral. Senti muita vontade de ir vê-lo mas tinha muita vergonha de chegar na frente dele e dizer: oi pai, sou sua filha, lembra de mim?
Não fui. Depois fiquei sabendo que ele já não conversava mais tão bem, recebia alimento na boca e usava fraldas.
E então veio a notícia de que ele faleceu. Só nessa hora pude perceber o que é o arrependimento. A gente se deixa levar pela correria da rotina e não faz o que acha que deveria, mesmo sem ter coragem, a vida passa, as pessoas também. Quando vi meu pai, ele estava no caixão, já não podia mais falar com ele, tão diferente, tão magro, cabelos brancos, dedos longos, aquele não podia ser meu pai, não aquele homem bonito e forte que conheci. Como eu queria que ele pudesse me escutar, como eu queria segurar as mãos dele, mas não frias como estavam naquela hora.
E eu prometi a mim mesma, a não deixar que mágoas, rotina, bobeiras da gente, me impedissem mais do que quer que fosse em minha vida. Esta é uma só, talvez a gente não tenha uma segunda chance para se corrigir na vida. Devemos tentar fazer tudo da melhor forma possível, para não nos arrependermos depois. A vida se vai, as pessoas com ela.
Pai, neste dia dos pais, não posso te dar um presente. Espero que os erros não sirvam de sofrimento e sim de aprendizado. Que Deus nos dê uma segunda chance, mesmo que num outro tempo para nos redimirmos, para nos corrigirmos a prendermos a amar incondicionalmente.
Só posso te dizer que as minhas lembranças são as melhores possíveis, peço que em seu caminho haja luz, obrigada por ter sido meu pai, aprendi a ser mãe, com as experiências que tive a seu lado, aprendi a amar a família.
Esteja bem, esteja com Deus, Feliz Dia dos Pais.
Para mim é diferente a sensação com relação ao Dia dos Pais. É legal, é muito bom hoje porque tenho uma filha, ela ama o pai e o pai a ama também. Então é lindo comemorar o Dia dos Pais hoje por causa da nossa filha. Tem o meu sogro, mas por mais que o estime, ele não é meu pai.
Meu pai, quando era presente, era um pai meio diferente: lembro dele forte, cabelos fortes e muito escuros, óculos escuros dia e noite, baixinho, mecânico de automóveis. Mas ele não nos deixava chamá-lo de Pai, queria Pop. Era brincalhão e vivia tirando uma com minha cara, eu era bobona, magrela, míope...além dos dentes tortos e cabelão tão comprido que tinha de levantar as pontas para não sentar nele. Me chamavam de Perla, eu detestava, não podia nem ver a Perla cantando no Chacrinha....
Com meu pai aprendi o gosto da leitura, aprendi a ler com 5 anos (naquela época a gente entrava na escola para se alfabetizar com 7 anos) só para ler os gibis que eu o via lendo: Tio Patinhas, Mortadelo e Salaminho (que saudades....), daí parti para os livros e revistas e hoje leio de tudo, até bula de remédio.
Com ele também aprendi a comer peixe, de todo tipo, crustáceos, e coisinhas mais diferentes como língua e miolo bovinos (que hoje não tento mais)
Ele fazia brincadeiras de todo tipo, lembro de uma vez que ele comprou umas bananas imensas e disse que eram bananas de macaco. Então ele pegou uma e foi comer no quintal, tinha roupas estendidas no varal e ele nos chamou mas estava com uma voz muito estranha, quando chegamos perto ele tinha um rosto de macaco (era uma máscara) e começou a fazer barulhos e movimentos de macaco, que susto!!!!
Uma outra vez ele levou um saco de pedras para casa e falou para minha mãe que elas eram explosivas, não podiam ficar molhadas, nós acreditamos, levávamos aquele saco de pedras pela casa como se fosse mesmo uma bomba, era um tormento lavar o chão com medo das tais pedras explodirem. Ele devia se divertir muito às nossas custas.
Colava moedas no chão para a gente tentar pegar, colocava fios de vassoura piaçava em frestas para imitar antenas de barata (eu tenho pavor até hoje...)
Também com ele aprendi a amar os animais, por ele nós teríamos um zoológico em casa, além dos incontáveis gatos (que eram sua paixão - sua oficina se chamava Miau Shop Service), tivemos galo e galinha com seus pintinhos, pato pata e seus patinhos, gnus, esquilos, coelho, peixes, cachorro, ele soltava caranguejos vivos pelo quintal (uma noite matei um quando pisei nele no escuro) e até um sagüi ele levou para casa....
Fazia lagartixas de massinha como ninguém, pareciam reais !!!
Deixava as formigas picarem suas mãos, cortava caroço de azeitonas nos dentes...
Dirigia muito bem, tinha um DKV - Vemaguete 67, aparecia em casa com carros diferentes, e velhos. Tinha as mãos sujas de graxa, assim como as roupas, chulé e roncava muito alto.
Bebia e brigava com minha mãe. Ele não queria filhos. Acho que também não queria ser casado, existem homens que nasceram para não ter compromissos com família e meu pai era assim. Era seu lado não bom.
Um dia, depois que fiz 15 anos, ele disse que ia trabalhar no Nordeste e se foi.
Não voltou mais, não nos vimos por muitos anos.
Um dia eu estava no metrô e vi uma menininha japonesa de 1 ano mais ou menos, no colo de sua mãe, ela era lindinha com aquele cabelinho liso, preto, bochechas bem vermelhinhas. Quando olhei ao lado delas vi meu pai. Era filha dele, sua nova família....
Depois eu soube que tinha também um irmão...
Depois de muitos anos, eu o vi doente, na casa de minha tia, irmã dele. Mais uma vez ele se foi e sumiu.
Me ligou no dia do meu noivado, estava falando diferente, disse que tinha caído da moto e quebrado os dentes.
Um dia eu estava trabalhando e minha tia me ligou, eu não atendi na hora e depois me arrependi. Liguei de volta e ela disse que meu pai tinha estado lá e queria ter falado comigo ao telefone, mas já tinha ido embora, quase chorei de arrependimento, ela então pediu ao meu primo para ver se ainda o alcançava na rua, ele ia para o metrô, para pegar um ônibus para o litoral onde morava.
Ainda bem que ele voltou e nos falamos, eu não sabia sobre o que conversar depois de tantos anos. Ele parecia cansado e não falava mais tão bem. Perguntei pelos gatinhos, ele riu e disse que tinha sim, lá no litoral. Nos despedimos, eu fiquei feliz e foi a última vez que nos falamos.
No reveillon de 2005 encontrei minha tia no mercado, ela me contou que ele havia sido operado do coração fez ponte safena, estava morando em um asilo no litoral. Senti muita vontade de ir vê-lo mas tinha muita vergonha de chegar na frente dele e dizer: oi pai, sou sua filha, lembra de mim?
Não fui. Depois fiquei sabendo que ele já não conversava mais tão bem, recebia alimento na boca e usava fraldas.
E então veio a notícia de que ele faleceu. Só nessa hora pude perceber o que é o arrependimento. A gente se deixa levar pela correria da rotina e não faz o que acha que deveria, mesmo sem ter coragem, a vida passa, as pessoas também. Quando vi meu pai, ele estava no caixão, já não podia mais falar com ele, tão diferente, tão magro, cabelos brancos, dedos longos, aquele não podia ser meu pai, não aquele homem bonito e forte que conheci. Como eu queria que ele pudesse me escutar, como eu queria segurar as mãos dele, mas não frias como estavam naquela hora.
E eu prometi a mim mesma, a não deixar que mágoas, rotina, bobeiras da gente, me impedissem mais do que quer que fosse em minha vida. Esta é uma só, talvez a gente não tenha uma segunda chance para se corrigir na vida. Devemos tentar fazer tudo da melhor forma possível, para não nos arrependermos depois. A vida se vai, as pessoas com ela.
Pai, neste dia dos pais, não posso te dar um presente. Espero que os erros não sirvam de sofrimento e sim de aprendizado. Que Deus nos dê uma segunda chance, mesmo que num outro tempo para nos redimirmos, para nos corrigirmos a prendermos a amar incondicionalmente.
Só posso te dizer que as minhas lembranças são as melhores possíveis, peço que em seu caminho haja luz, obrigada por ter sido meu pai, aprendi a ser mãe, com as experiências que tive a seu lado, aprendi a amar a família.
Esteja bem, esteja com Deus, Feliz Dia dos Pais.
